terça-feira, 23 de agosto de 2011

Os sonhos de Grace Wanjiru para os mundiais

Grace Wanjiru (dir.), treinando perto de
Nairobi com Emily Wamusi Ngii.
Foto: Stafford Ondego/The Standard
Do Quénia chegam por vezes surpresas curiosas para o mundo da marcha. Quem acompanha a actividade competitiva da especialidade há mais anos recordará, por certo, aquele episódio da Taça do Mundo de Marcha de 1989, em L'Hospitalet, quando Mitisile Kilombo, um desconhecido marchador queniano, assumiu a liderança dos 20 km masculinos logo nos primeiros metros, destacando-se de todos os adversários para espanto de atletas consagrados como o mexicano Ernesto Canto, o soviético Mikhail Shchennikov, o italiano Maurizio Damilano, o espanhol Daniel Plaza ou o português José Urbano.

Como é fácil perceber, foi sol de pouca dura, tendo o entusiasmado africano sido rapidamente alcançado, ultrapassado e, por fim, desclassificado.

Em anos mais recentes, o Quénia voltou a ser notícia no mundo da marcha pelos sucessos atingidos a nível continental por David Kimutai Rotich e também por uma mulher: Grace Wanjiru. Ora, esta marchadora, dez anos mais jovem que o quarentão Rotich (42 anos), tem sonhos de triunfo nos mais importantes palcos mundiais da modalidade.

Depois de habituar os pais aos prémios ganhos nas corridas escolares de 5000 metros, Grace teve certa vez uma aventura que lhe alteraria a relação com o atletismo. «Um dia cheguei atrasada às competições provinciais escolares», recorda em entrevista recente ao jornal queniano «The Standard». «A corrida de 5000 metros já tinha terminado e como não queria decepcionar os meus pais chegando a casa de mãos vazias, decidi participar na prova de marcha. Era a única que faltava disputar e acabei no segundo lugar», explica.

Grace Wanjiru é actualmente a melhor marchadora africana, com três títulos continentais já conquistados, além do terceiro lugar obtido em 2010 nos Jogos da Comunidade Britânica realizados em Nova Déli (Índia). Juntando a marca alcançada em Nairobi nos recentes campeonatos quenianos de atletismo, quando venceu com 1.28.15 h, a atleta considera nada mais ser preciso para se apresentar em Daegu em condições de lutar pela medalha de ouro no campeonato do mundo.

Será a primeira vez que o Quénia apresenta nos mundiais de atletismo uma participante na prova feminina de marcha, mas a sua escolha não foi fácil, já que de início David Rotich era o único marchador no lote dos seleccionados. «Rezei muitos anos pela oportunidade que agora chegou e não vou desiludir. Sei que será tarefa difícil, sobretudo por causa das marchadoras australianas e russas, mas não tenho medo de ninguém. Fiz bons treinos e irei mostrar o que valho», garante.

Com o recorde mundial cifrado em 1.25.08 h e o máximo pessoal estabelecido em 1.28.15 h nos nacionais de Junho passado (com marcas que, por sinal, têm sido postas em causa por suspeita de má medição do circuito), Wanjiru acha que a marca de Vera Sokolova está ao seu alcance e que bater o recorde do mundo será uma questão de tempo.

«Depois do meu recorde de 1.28.15 h, o passo seguinte será melhorar essa marca, dado que estou em melhor forma. Estarei na luta pelo ouro porque melhorar dois minutos em longas distâncias é perfeitamente possível», considera.

Quanto ao futuro, Grace Wanjiru afirma querer experimentar a maratona antes de terminar a carreira atlética. «Treino tanto ou mais que os maratonistas, porque nunca faço menos de duas horas por dia. Por isso acho que posso fazer uma maratona sem dificuldade. Considero isso para o futuro», conclui.

Sonhos não faltam a Grace Wanjiru. Faltará agora a confirmação para verificar se não se trata da mesma ilusão que guiou Kilombo nas passadas iniciais da Taça do Mundo de 1989.