segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Ausência de Susana Feitor dos Jogos Olímpicos de Londres: acontecimento nacional de 2012

Susana Feitor na última presença olímpica, em Pequim-2008.
Foto: Lusa.
Não foi a primeira vez que Susana Feitor foi preterida na composição de selecções nacionais: já acontecera em 2010, para os europeus de Barcelona. Mas a não integração da melhor marchadora portuguesa de sempre na selecção olímpica de Portugal para os Jogos de Londres, no Verão passado, poderá ter vindo para ficar como marco de início de uma nova fase na história da marcha atlética no nosso país.

Por via da ausência dos Jogos de 2012, Susana Feitor viu inviabilizada a possibilidade de registar a participação na sexta edição consecutiva dos Jogos Olímpicos, o que entre os desportistas portugueses apenas o velejador João Rodrigues alcançou, precisamente em Londres, nos Jogos deste ano quase terminado.

O madeirense e a ribatejana iniciaram-se nas lides olímpicas nos já distantes Jogos de Barcelona de 1992. Durante o período entretanto transcorrido, Susana Feitor foi habituando os adeptos portugueses do atletismo e do desporto em geral a presenças regulares nas grandes competições internacionais de atletismo. Aliás, vinha já de 1989 a estreia internacional da atleta que então representava o Clube de Natação de Rio Maior, com a participação nos europeus de juniores de Varazdin (na antiga Jugoslávia). E em várias destas participações ao mais alto nível o desempenho de Susana tinha atingido relevo de grande significado, traduzido na obtenção de medalhas individuais e colectivas, a começar logo em 1990, com a vitória nos 5000 m marcha femininos dos mundiais de juniores de Plovdiv (Bulgária).

Com esse sucesso, a muito jovem marchadora de Rio Maior, então com apenas 15 anos, começava a aparecer nas páginas de destaque dos jornais e das revistas e nos principais programas da rádio e da televisão. Na sua terra, a atleta foi mesmo o motivo para que um concelho economicamente empobrecido por enfraquecimento das tradicionais actividades industriais e agrícolas fizesse do desporto uma nova área de intervenção económica, com a criação de um centro de preparação olímpica (em parceria da câmara municipal com o comité olímpico) e de uma escola superior de desporto, integrada no Instituto Politécnico de Santarém.

Mas Susana Feitor foi também motivo de inspiração para muitos jovens desportistas, tendo atraído à prática da marcha algumas jovens atletas que, já crescidas, viriam a ser as principais competidoras da «estrela» rio-maiorense. Entre elas, as conterrâneas e colegas de clube Inês Henriques e Vera Santos, a que se juntariam, primeiro, a madeirense Maribel Gonçalves (2004) e, depois, Ana Cabecinha (2008) e com as quais Susana haveria de ter de disputar, a partir de 2004, um lugar entre três para Jogos Olímpicos, campeonatos do mundo e campeonatos da Europa.

Foi sempre conseguindo manter o lugar na selecção até aos já referidos europeus de 2010, para os quais não foi escolhida. Em 2011 voltaria a ser seleccionada para a 11.ª presença em mundiais de atletismo, mas de novo em 2012 ficaria de fora (dos Jogos de Londres).

Numa fase em que Susana Feitor já não revela a mesma facilidade de outros tempos para obter marcas do nível a que nos habituou, a ausência dos Jogos de Londres acaba por ser não apenas o corte, provavelmente definitivo, na continuidade da participação olímpica da atleta, mas a entrada numa nova era da marcha portuguesa, com tendência para a tomada por outras atletas do lugar que durante muitos anos pertenceu a Susana Feitor.

De forma nenhuma se escreverá aqui o epitáfio desportivo da melhor marchadora portuguesa de sempre, aliás totalmente descabido, mas não se pode negar que a transcendência do significado da ausência de Susana Feitor dos Jogos Olímpicos de Londres supera alguns outros acontecimentos que também justificariam destaque neste final de ano. Apesar de ser, em boa verdade, um não-acontecimento, esse é considerado pela equipa do blogue «O Marchador» o acontecimento nacional da marcha atlética em 2012.