quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Algumas razões para manter a marcha nos Jogos da Commonwealth

Agora com três medalhas olímpicas, Jared Tallent
venceu os 20 km masc.em Nova Deli-2010.
Foto: AP

À semelhança do que aconteceu na fase preparatória da última edição dos Jogos da Comunidade Britânica, realizados em Outubro de 2010 em Nova Deli (Índia), a próxima edição do certame, marcada para Glasgow (Escócia) de 23 de Julho a 3 de Agosto de 2014, tem a disciplina da marcha excluída do programa. Competição multidesportiva que junta no mesmo programa 17 modalidades, os Jogos de 2014 terão, assim, o atletismo amputado de uma das disciplinas que mais expressão ganharam a nível mundial nos últimos anos.

A edição de Glasgow destes Jogos sucede à de Nova Deli-2010, a qual três anos antes de ter lugar também tinha a marcha fora do programa. À época, a organização justificou a decisão com o facto de haver na cidade problemas de tráfego urbano que dificultavam a escolha de um circuito para as provas da disciplina. No entanto, o Comité Olímpico Internacional (sob cuja égide estes Jogos são organizados) e a Associação Internacional de Federações de Atletismo conseguiram que o comité organizador do evento reconsiderasse e voltasse a integrar a marcha atlética no programa desportivo, apesar de apenas com as provas de 20 km masculinos e femininos.

Ainda que muitos dos países participantes nos Jogos da Comunidade Britânica, incluindo os que se inscrevem no atletismo (quase todos), não participem nas provas de marcha, a verdade é que a comunidade inclui alguns dos países com maior expressão mundial na disciplina, caso sobretudo da Austrália, uma das potências mundiais da marcha. Mas, além desta, também o Canadá, a Grã-Bretanha e a Nova Zelândia têm tradições na especialidade, sendo pátria de atletas responsáveis pela obtenção de dezenas de medalhas nas mais importantes competições à escala planetária: os Jogos Olímpicos, os campeonatos do mundo e as taças do mundo.

Nos anos mais recentes, digamos desde 2010, também a Índia, outro membro da comunidade, se tem afirmado a nível internacional na marcha atlética, com atletas seus a ocuparem lugares cada vez mais interessantes em competições como os recentes Jogos Olímpicos de Londres.

Por tudo isto, parece que a decisão de excluir a marcha dos Jogos da Commonwealth não é uma desconsideração em abstracto, mas uma falta de consideração para muita gente em concreto, desde os mais afamados campeões a nível mundial até aos atletas que ainda não atingiram os níveis mais altos de desenvolvimento competitivo. E também para todos os que, sendo treinadores, juízes, dirigentes ou simples adeptos ligados à marcha atlética, têm contribuído de alguma forma para a valorização dessa disciplina olímpica do atletismo nos países da Comunidade Britânica.

Além do mais, a discriminação da marcha é em si uma atitude não consentânea com os valores solidários do Olimpismo, que devem nortear o desporto de maneira geral e, de forma particular, os eventos organizados na esfera do Movimento Olímpico, como é o caso.

Figura destacada da marcha na Grã-Bretanha e muito respeita no atletismo mundial, Peter Marlow tem-se empenhado na luta pela integração da marcha no programa de Glasgow-2014. Portugal não faz parte da comunidade envolvida nestes Jogos, mas nem isso arrefece a estima que os marchadores portugueses têm pelo reconhecimento da sua disciplina seja onde for. O blogue «O Marchador» exprime a sua solidariedade a Peter Marlow e, por seu intermédio, a todos os marchadores da Comunidade Britânica, na esperança de que não vá por diante esta tentativa de menosprezar uma disciplina de corpo inteiro do atletismo.