sábado, 23 de novembro de 2013

Lisboa corta na marcha do Grande Prémio de Natal

Atletas internacionais nas provas de marcha do GP Natal de 2011.
Foto: O Marchador
A Associação de Atletismo de Lisboa (AAL) anunciou o programa da edição deste ano do tradicional Grande Prémio de Natal e, como vem sucedendo desde 1978 (com a excepção de 1996, por motivo de obras nos Restauradores), a marcha atlética está incluída no conjunto de provas. No entanto, duas novidades constituem estranheza: a eliminação dos prémios monetários para os atletas da disciplina e a redução da distância das provas de 5 km para 3 km.
 
Já se sabe que o torpedeamento do desporto associativo nos dias que correm tem criado grandes dificuldades ao funcionamento dos clubes, das associações e das federações. Em muitos casos ficam postas em causa as possibilidades de organização de provas, o apoio à deslocação de atletas e, nalguns casos, a própria sobrevivência de secções ou mesmo de clubes inteiros.
 
Ainda assim será difícil compreender que a AAL tenha posto fim aos prémios monetários do Grande Prémio de Natal mas apenas no referente às provas de marcha. Espantoso! Os prémios atribuídos às corridas do mesmo torneio não sofreram qualquer alteração. O mesmo é dizer que, para a AAL, se for necessário cortar, então corte-se logo na marcha. Resta saber o que vai a organização ganhar com isso, atendendo a que, já de si e desde que foram instituídos, os prémios monetários da marcha no Grande Prémio de Natal sempre foram muito inferiores aos da corrida.
 
Mas se esta evidente diferenciação causa estranheza, o que poderá dizer-se da diminuição das distâncias das provas de marcha atlética? Desde os tempos em que as provas de marcha começavam no Estádio da Luz (masculinos) ou na Feira Popular (femininos) e terminavam na Praça dos Restauradores até ao formato vigente ainda no ano passado (cinco voltas a um circuito de 1 km no caso dos seniores), várias foram as distâncias programadas, que passaram, por exemplo, por provas de várias voltas no circuito que compreendia toda a Avenida da Liberdade.
 
Porquê, então, agora fazer apenas 3 km? Será para poupar no tempo de ocupação dos juízes? Será para aproximar a distância do zero? Estará a Associação de Atletismo de Lisboa a pensar fazer o mesmo noutras provas de marcha do calendário anual?
 
Confrontado com algumas destas questões por um dirigente de clube que em reunião técnica com a AAL quis saber das razões de tão estranhas alterações, o presidente da associação distrital, Marcel de Almeida, respondeu que não foram encontrados patrocinadores para as provas de marcha.
 
Tão inusitada resposta suscita de imediato mais algumas questões.
 
Então a AAL procura patrocínios para as provas de marcha?! Essa é uma grande novidade, porque não só nunca se soube de tão dedicado empenho em benefício da marcha atlética como nunca se viu qualquer efeito de campanhas de «marketing» ou de angariação de fundos que tivessem sido levadas a cabo pela AAL a pretexto do apoio a esta disciplina do atletismo.
 
E quanto renderam os patrocínios obtidos para as provas de corrida do Grande Prémio de Natal? Foram obtidos para as corridas em exclusivo ou para o Grande Prémio de Natal no seu todo?
 
Historicamente, a marcha atlética tem uma ligação estreita ao Grande Prémio de Natal, uma ligação que vem quase do tempo do renascimento da marcha em Portugal. A primeira edição do G.P. Natal com marcha atlética teve lugar em 19 de Dezembro de 1978, só com masculinos. Em 1983 já alinharam atletas femininos. Em 1991, os seniores presentes acabaram por não linhar nas provas por alegarem acto discriminatório da organização. Em 1996, como atrás se disse, não se realizaram provas de marcha atlética devido às obras nos Restauradores.
 
E foi com o grande carinho e o incansável apoio do então presidente da AAL, Mário Paiva, que a marcha teve as primeiras inclusões no programa do GP Natal.
 
A participação de marchadores neste importante evento da AAL registou-se quase sempre com os melhores especialistas nacionais, entre os quais atletas olímpicos e atletas medalhados em grandes competições internacionais, que com a sua presença ajudaram a dignificar as várias edições do grande prémio em que tomaram parte. Nunca terá sido salientado mas em várias ocasiões os principais marchadores foram os atletas de maior valia absoluta que alinharam no Grande Prémio de Natal (considerando corredores e marchadores).
 
As provas de marcha do Grande Prémio de Natal não têm tantos participantes como as de corrida. Esse é um facto evidente. Mas, em contrapartida, entre os marchadores presentes contam-se habitualmente alguns dos melhores de mundo, incluindo atletas filiados na associação organizadora.
 
Como compreender que ao fim de todos estes anos se continue a segregar a marcha?
 
Se isto não é discriminação, então será o quê?