quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Marcha em Portugal na Primavera de 1938 (I)


Alertado pelo jornalista e atleta Cipriano Lucas para a realização de uma prova de marcha em Lisboa em Abril de 1938, o blogue «O Marchador» publicou em 21 de Novembro de 2012 uma peça sobre essa competição pouco conhecida. Corrigindo desde já a data dessa prova, que não foi a 11 de Abril de 1938 (como erradamente se mencionou na referida peça) mas um dia antes, cabe agora fazer um apanhado mais desenvolvido sobre o grande impacte que a prova teve à época.

O impulso organizativo pertenceu à equipa do jornal «Os Sports», um bissemanário desportivo publicado em Lisboa às segundas e sextas, que levava já 19 anos de existência e iria passar a trissemanário (2.ª, 4.ª e 6.ª) precisamente no dia em que publicou a reportagem da prova. E «Os Sports» não se fizeram rogados na publicitação do evento, que serviu de promoção tanto da marcha como do próprio jornal, organizador regular de provas e torneios de diferentes modalidades em seu próprio nome. Para o efeito não se furtou mesmo a usar as páginas mais nobres do jornal (primeira e última) para a divulgação da prova, iniciada na capa da edição de 18 de Fevereiro, quase dois meses antes da data marcada para o encontro dos atletas.

O acontecimento era anunciado como sendo «o renascimento da marcha», expressão tantas vezes usada nos anúncios ao longo daquelas semanas que acabou quase tomada como designação oficiosa do evento. E para atrair mais ainda a atenção dos leitores e o interesse dos potenciais atletas, evocava-se os nomes de alguns dos melhores marchadores portugueses conhecidos até então, como Djalme Bastos, vencedor da primeira prova de marcha integrada nos Jogos Olímpicos Nacionais, organizados de 1910 a 1913 pela Sociedade Promotora da Educação Física Nacional, entidade que constituiu a origem remota do comité olímpico.

Pelo interesse histórico, transcreve-se de seguida o texto com que, em 18 de Fevereiro de 1938, «Os Sports» iniciaram a divulgação da prova. Em próximos «posts», o blogue «O Marchador» desenvolverá este tema, até ao relato da competição, ao desenvolvimento posterior que o jornal lhe concedeu e à referência a outras três provas surgidas nas semanas seguintes, por inspiração nestes 25 km de 10 de Abril de 1938.
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O renascimento da marcha
Uma prova de marcha

A marcha é uma especialidade que entre nós tem estado abandonada. Pois vamos reanimá-la!

Tempos houve em que a marcha fazia parte dos nossos programas oficiais e tinha fervorosos cultores, entre os quais podem recordar-se Djalme Bastos, Ilídio Costa, Deodoro Ferreira, etc.

Depois esqueceu — e as causas desse esquecimento não interessam.

No entanto em todos os países em que o atletismo está desenvolvido, e especialmente na Inglaterra, Suécia, Suíça, França e Itália, a marcha continua sendo uma das mais apreciadas modalidades atléticas, figurando, mesmo, nos programas olímpicos.

Algumas provas de marcha adquiriram grande fama, podendo citar-se a de Paris-Estrasburgo, uma das mais formidáveis competições de todo o Mundo.

Entendemos que o renascimento de tão interessante modalidade constitue uma necessidade do nosso atletismo, e por isso nos dispusemos a organizar uma prova de marcha, despertando, assim, o gosto por um exercício excelente entre os melhores.

A distância dessa prova será de 25 quilómetros, num traçado que em breve será escolhido e a data da realização está marcada para 10 de Abril.