sexta-feira, 16 de maio de 2014

Susana e Inês lançadas para a arena da Corunha

Susana Feitor e Inês Henriques vão estar
frente a frente  na Corunha. Foto: Lusa
A Federação Portuguesa de Atletismo decidiu adiar a escolha da terceira atleta a integrar a selecção nacional para os europeus de Zurique na prova dos 20 km marcha femininos. A decisão foi divulgada esta quinta-feira, com o anúncio dos pré-seleccionados para as provas de maratona e de marcha dos campeonatos da Europa de Atletismo, que vão ter lugar de 12 a 17 de Agosto, naquela cidade suíça.

No caso da marcha, estão já pré-seleccionados João e Sérgio Vieira, nos 20 km masculinos, Pedro Isidro (50 km) e Ana Cabecinha e Vera Santos, nos 20 km femininos. De acordo com os critérios de selecção estabelecidos e divulgados pela FPA, haveria três momentos de selecção. Tendo em conta unicamente os 20 km femininos, no primeiro desses momentos (Campeonatos Nacionais de Marcha em estrada, Quarteira, 1 de Fevereiro) seria pré-seleccionada a campeã nacional, tendo Ana Cabecinha reunido as condições exigidas para o efeito (foi ela a vencedora da prova feminina). No segundo, o Grande Prémio de Rio Maior (5 de Abril), seria pré-seleccionada uma segunda marchadora, tendo a escolha recaído em Vera Santos, a melhor posicionada entre as portuguesas nesse dia (de resto, vencedora). Por fim, num terceiro momento (taça do mundo de Taicang, 3 e 4 de Maio), seria eleita a terceira componente da equipa, tendo em conta o desempenho das envolvidas nos dois momentos anteriores.

Neste caso, além das duas já pré-seleccionadas, restavam, em Taicang, Susana Feitor (17.ª, 1.28.51) e Inês Henriques (22.ª, 1.29.33). Em Quarteira, Inês tinha sido terceira (1.32.10) e Susana quarta portuguesa (1.34.03); em Rio Maior, Inês registara 1.32.03 h e Susana desistira.

Afirma a FPA, na nota de divulgação da decisão, que, «após analisar a prestação das atletas Inês Henriques (Clube de Natação de Rio Maior) e Susana Feitor (Individual) durante o período estabelecido nos critérios de seleção, e dada a proximidade de valor e estado de forma entre as duas atletas mencionadas, decidiu criar mais um momento de avaliação» (Grande Prémio da Corunha, 31 de Maio). Estabelece ainda esta nova norma que a vencedora do confronto directo entre as duas atletas será a terceira pré-selecionada para Zurique.

Como se não bastasse já a polémica decisão contrária às normas que a própria federação emanara como critérios de selecção para a Taça do Mundo de Taicang, onde, num processo pouco transparente, acabaram por ter lugar atletas sem marcas de qualificação (um ficando perto delas e outro ficando longe), volta agora a FPA a fazer tábua rasa das suas próprias normas e cria um novo momento de avaliação de duas atletas, obrigando-as a um confronto directo em Espanha (do género «finalíssima de desempate» – agora é que é mesmo a valer). A justificação assenta na proximidade de valor e de estado de forma revelada por Susana Feitor e Inês Henriques ao longo do período de avaliação.

E aqui surge então a estranheza, por parecer mais ou menos óbvio que ou era escolhida, entre as duas em questão, a atleta melhor classificada na taça do mundo (nesse caso, Susana Feitor, com os seus 42 segundos de avanço e melhor marca do que o recorde pessoal de Inês) ou então considerava-se que Inês Henriques tinha sido duas vezes superior a Susana nos três «confrontos» de pré-selecção e optava-se pela atleta do Clube de Natação de Rio Maior.

Aparentemente, não haveria outras possibilidades, sendo estas aparentemente claras, mas a federação assim não entendeu e voltou a mandar às malvas os seus próprios critérios de selecção, com uma justificação, no mínimo, difícil de entender.

Para além das questões que a situação levanta sob vários pontos de vista, surge mais uma pergunta: se 42 segundos e cinco lugares de diferença não permitiram fazer uma escolha entre duas atletas na prova final, com que legitimidade vai alguém proceder à escolha com base numa prova suplementar em que a diferença entre as duas venha a ser, por hipótese, mais pequena?

Agora, as atletas não vão ser lançadas às feras, como no circo de Roma. Vão, sim, lançar-se num duelo que vai deixar mazelas. Talvez no início da prova seja possível vê-las saudar o imperador com a velha fórmula «Morituri te salutant!».