quinta-feira, 28 de abril de 2016

Incompreensível a não convocatória de Inês Reis para o Mundial de Nações

Carolina Costa e Inês Reis na prova de juniores de Rio Maior (9/4).
Foto: Laura Taborda
A Federação Portuguesa de Atletismo anunciou recentemente a constituição da Seleção Nacional para o Campeonato Mundial de Nações de Marcha Atlética, uma competição de cariz essencialmente coletivo, que vai ter lugar nos dias 7 e 8 de maio. 

Causou muita estranheza, e até incompreensão, o facto de Inês Reis, jovem atleta do Penta Clube da Covilhã, agremiação desportiva do distrito de Castelo Branco, não ter sido uma das selecionadas para competir em Roma, na prova dos 10 km marcha (juniores), ao ter cumprido os requisitos estabelecidos pela própria FPA, suplantando a marca exigida (51:30), no decorrer do Grande Prémio Internacional de Rio Maior.

A atleta, treinada por Amaro Teixeira, tem progredido acentuadamente e é uma das grandes revelações do ano na marcha atlética em Portugal. Estudante exemplar, concilia as suas atividades estudantis com as desportivas, treinando-se em condições, por vezes, desfavoráveis, longe dos grandes centros da marcha atlética em Portugal, nomeadamente, Pechão e Rio Maior. E foi em Rio Maior que no dia 9 deste mês comprovou as suas boas aptidões para a disciplina ao melhorar significativamente o seu recorde pessoal. Inês Reis expressaria, na sua página de facebook, a sua felicidade:

Consegui este sábado, em Rio Maior, junto de alguns dos melhores marchadores do mundo alcançar a marcha de qualificação exigida pela Federação Portuguesa de Atletismo para a Taça do Mundo de Nações de Marcha, no escalão de juniores, realizando a marca de 51m21s batendo assim o meu recorde pessoal por 3m14s e batendo ainda o recordes distritais de juniores e seniores do distrito de Castelo Branco e assim não podia estar mais feliz com o resultado que consegui, agora só posso aguardar esperançosamente pela convocatória, muito obrigada a todos pelo apoio em especial ao meu treinador Amaro Teixeira, que sem ele nada seria possível, obrigada ainda aos meus companheiros.”

Note-se que na prova de 10 km juniores de Rio Maior, as três primeiras classificadas foram chinesas, a primeira e a terceira juvenis de primeiro ano, e a segunda juvenil de segundo ano, tal como Inês Reis, quinta classificada e a apenas 23 segundos da sua compatriota, a pechanense Carolina Costa, a única selecionada para os mundiais no escalão de juniores não podendo, por conseguinte, formar equipa pois, para o efeito, seriam necessárias, no mínimo, duas atletas.

Salvaguardando naturalmente as devidas proporções, recordemos o que se passou com Susana Feitor. Em 1989, com 14 anos de idade (escalão de iniciadas), fez mínimos para os Europeus de Juniores realizados, nesse ano, em Varazdin. A FPA entendeu, então, não a selecionar devido à idade da atleta. Perante uma exposição densamente elaborada pelos elementos da então Comissão Nacional de Marcha, os seus dirigentes reverteram a posição inicialmente tomada permitindo a sua participação, nesse e nos anos seguintes. 

Para o seu treinador, Amaro Teixeira, teria sido útil e justa a sua convocação para a Seleção Nacional:

“Após verificar a não convocatória da minha atleta Inês Reis, fico um pouco desapontado com a Federação Portuguesa de Atletismo. A atleta cumpriu os critérios estipulados e em termos motivacionais era uma grande recompensa para a atleta, que tem tido um comportamento exemplar a nível desportivo e escolar. O seu objetivo desde inicio da época foi claramente alcançar marca de referencia para o 1º Campeonato da Europa de Juvenis, o que já conseguiu, o resultado dela aos 10km foi sem pressão e numa linha de progressão constante, pensando que também já na próxima época as suas principais provas são de 10km, e tendo conseguido alcançar, era excelente para ela se preparar psicologicamente e ganhar experiência internacional e depois sendo convocada para o Europeu do seu escalão, conseguir lá alcançar um melhor resultado. Outras atletas no passado já o fizeram e acharam benéfico para a sua carreira desportiva. Vamos continuar a trabalhar e fazer o que depende de nós em busca do melhor êxito desportivo possível, mas também pedindo para não se esquecerem de nós.”

Também, após tomar conhecimento através do site da FPA, da sua não convocatória, a atleta manifestou o seu estado de alma na sua página de facebook:

“É com alguma tristeza que vejo esta convocatória em que poderia constar o meu nome pois cumpri todos os critérios de seleção apresentados pela FPA para esta competição, uma vez que em lugar algum consta que não serão integradas atletas juvenis na prova de juniores, o que se encontra explicito no campeonato do mundo de juniores em que é referido que só participarão atletas juniores. A meu ver seria uma ótima preparação para o europeu de juvenis para o qual já confirmei mínimos e ainda com a possibilidade de formar equipa com a atleta júnior convocada. “

Recorde-se que na edição de 2012, em Saransk, na Rússia (competição então designada por Taça do Mundo de Marcha), das duas atletas selecionadas pela Federação Portuguesa de Atletismo, no escalão de juniores, ambas com registo inferior à marca recentemente realizada por Inês Reis, uma delas, Mara Ribeiro (CN Rio Maior), ainda era juvenil.
Entretanto, a contrastar com a exclusão de Inês Reis, com mínimos cumpridos, foram selecionados 2 atletas sem os mínimos exigidos pela FPA para a prova de 20 km masculinos (1.25.00): Sérgio Vieira, a 11 segundos, e Miguel Carvalho, a 2 minutos e 51 segundos!

Será, pois, da mais elementar justiça que a FPA reveja a sua posição integrando a atleta Inês Reis na seleção para os Mundiais de Roma.